sexta-feira, 22 de agosto de 2008

A INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA IBÉRICA

OS PROCESSOS DE INDEPENDÊNCIA NA AMÉRICA LATINA
Eliane Aguirre1
Resumo:
Este artigo procura tratar alguns assuntos ligados ao processo de independência política dos
países da América Latina, fazendo uma separação entre as colônias ligadas à Espanha e as ligadas
à Portugal, em especial, o Brasil.
Palavras chaves: colonialismo, independência, América Latina.
“E os povos? Lutaram pela independência? Digamos que onde os chefes levantaram
bandeiras de redenção social ou, mais modestamente, de melhores condições de vida, os povos
lutaram. Mas, entenda-se bem, mais que pela independência, lutaram pela terra, pelo pão e pela
liquidação do servilismo”.2
O sistema de colonização mantido pelos países europeus no continente americano durou
mais de três séculos. Entre os países europeus, Portugal e Espanha dominaram os territórios mais
vastos da América, e também os mais ricos para a economia daquela época.
Embora houvesse diferenças entre eles, as relações entre as metrópoles ibéricas e suas
colônias americanas seguiam mais ou menos a mesma forma de funcionamento: as colônias
deveriam produzir mercadorias rentáveis no mercado europeu (principalmente gêneros agrícolas
tropicais e metais preciosos) que seriam exportados para a metrópole e de lá reexportados para
outros países; as colônias não poderiam fabricar produtos manufaturados, tendo que comprá-los
da metrópole.
Embora Portugal e Espanha utilizassem vários métodos para controlar essas relações, nunca
conseguiram garantir o comércio colonial apenas para si. Muitos produtos eram manufaturados
nas colônias, mesmo que clandestinamente; era muito intenso o contrabando, tanto de
mercadorias européias quanto de metais preciosos (ouro e prata).
Aqueles dois países, não tendo desenvolvido indústrias, eram obrigados a se abastecer em
países mais fortes economicamente, como a Inglaterra e a França, tornando-se dependentes deles.
Além disso, os incentivos dados ao incremento da produção de gêneros tropicais e de metais
1 Mestranda em História pela Universidade de Passo Fundo
preciosos e ao comércio, acabaram promovendo um certo crescimento econômico das áreas
coloniais, fazendo com que, pouco a pouco, as elites coloniais começassem a perceber a
necessidade de se separarem das metrópoles.
As relações entre os países ibéricos e suas colônias envolviam também outras nações
européias. Por isso, os acontecimentos que atingiam os países europeus acabavam tendo
repercussões nas colônias espanholas e também no Brasil. Assim, as transformações sociais e
econômicas pelas quais passava a Europa no início do século XIX, bem como os conflitos
daquele continente afetaram a vida dos domínios espanhóis e portugueses na América, acelerando
o processo de crise do sistema colonial, que resultaria na independência dos territórios
americanos.
“As Guerras de Independência foram, por sua relativamente curta duração e pelos positivos
resultados obtidos, um fato histórico de grande ressonância. Em dez anos se libertou um
continente de uma dominação que havia durado três séculos. Em um ano se declararam contra a
Espanha Estados e cidades separados por milhares de quilômetros e quase sem contradição. O
grito da Independência se propagou como por contagio, sem resistência visível...” 3
O processo de luta pelo fim do sistema colonial e pela independência política da América
foi resultado da ação de grupos numericamente pequenos, mas fortes e poderosos, que se
organizaram e, dessa forma, estruturaram os novos países de acordo com seus interesses.
Veremos a seguir, como se efetivou esse processo, primeiro, das colônias espanholas, e depois,
do Brasil, colônia portuguesa.
INDEPENDÊNCIA DAS COLÔNIAS ESPANHOLAS.
Durante as três primeiras décadas do século XIX, as colônias espanholas lutaram pela
independência em relação à metrópole. Não se tratou de um movimento único, mas de vários
processos distintos. Entretanto, podemos dizer que alguns elementos comuns contribuíram para
as luta pela independência.
O pensamento liberal do Iluminismo, que influenciou a independência dos Estados Unidos
(1776) e os grupos da Revolução Francês (1789), também se difundiu entre setores da elite
colonial espanhola. Muitos dos ideais antiabsolutistas defendidos pelo liberalismo serviram de
justificativa filosófica para a luta contra o domínio colonial espanhol.
Assim, as criticas contra o absolutismo europeu se transformaram em anticolonialismo na
América.
Além das idéias liberais, as lutas pela independência foram impulsionadas pela consciência
das elites coloniais de que os laços com o governo espanhol dificultavam seu domínio mais pleno
sobre as áreas da América. Essa elite era constituída, sobretudo, pelos criollos (filhos de
espanhóis nascidos na América).
A metrópole espanhola era responsável por várias medidas que prejudicavam a elite criolla:
a) dificultava o acesso dos criollos aos altos cargos do governo e administração colonial. A
maioria desses cargos era ocupada por pessoas nascidas na Espanha.
b) cobrava elevados tributos sobre produtos de exportação.
c) restringia o desenvolvimento de produtos manufaturados que concorressem com a produção
metropolitana.
As elites coloniais formavam um conjunto diversificado no qual encontramos grupos de
latifundiários (produtores de gêneros de exportação como cacau, açúcar etc.), comerciantes
urbanos, proprietários de minas etc. Não tinham o mesmo pensamento político ou econômico,
mas, em geral, concordavam em querer ampliar seus poderes locais e desejavam conquistar
direito ao livre comércio.
Por meio de varias revoltas emancipacionistas, que abrangeram o período de 1810 a 1828,
diversas áreas da América espanhola foram conquistando sua independência política.
Na América do Sul, as lutas pela independência contaram com a liderança de homens como
José San Martín e Simón Bolívar.
San Martín comandou um poderoso exército contra as forças espanholas, obtendo
importantes vitórias nas regiões sul e central da América do Sul. É considerado libertador da
Argentina, Chile e Peru.
Simón Bolívar destacou-se como líder militar e político nas lutas pela independência
travadas mais ao norte da América do Sul. É considerado libertador da Venezuela, da Colômbia,
do Equador, da Bolívia e também do Peru.
“O fato de a chamada elite criolla ter sido a promotora da independência determinou
simultaneamente, as finalidades e os limites desta. Constituindo-se em classe dominante, não
tinha, é claro, nenhum interesse em alterar a ordem social vigente. A estrutura interna latinoamericana
estava montada em função da articulação com os mercados europeus, para onde iam as
matérias-primas e de onde vinham as manufaturas. O monopólio exercido por Espanha e
Portugal, tornando insuportável o pacto colonial, motivou, a partir de certo momento, a rebelião
de independência. Por trás de um discurso de liberdade, o que houve foi a oposição aos seculares
privilégios gerados no mercantilismo: a cobrança de impostos, a proibição de produzir e negociar
livremente e a obrigação de os navios, que vinham ou saíam do Novo Mundo, de passarem,
obrigatoriamente, por portos ibéricos”.4
A Revolução Francesa e o Império Napoleônico também exerceram influência na
independência das colônias. A Revolução foi uma luta contra o absolutismo e o mercantilismo
(que era também a luta dos colonos). E Napoleão, ao invadir a Península Ibérica, acabou
acelerando o processo da independência. A ocupação francesa desorganizou completamente o
sistema colonial na América e possibilitou o aparecimento de circunstâncias favoráveis ao
movimento libertados.
Impedida de reagir, a metrópole apenas assistiu às sucessivas manifestações de rompimento
político por parte dos povos da América. Quando, finalmente, se libertou do domínio francês, em
1815, a Coroa espanhola tentou, por meio de violenta repressão, impedir novos movimentos. Mas
já não havia a menor possibilidade de sucesso.
O imenso Império espanhol desmoronou em menos de vinte anos.
Quando Napoleão Bonaparte dominou a Espanha e depôs o rei, as colônias se recusaram a
obedecer aos franceses, organizando Juntas Governativas, que iriam cuidar da administração até
que a situação internacional se definisse.
Numa primeira etapa (1810-1815), que corresponde ao período em que a Espanha estava
ocupada pelos franceses, deu-se a independência da Argentina, do Paraguai, da Venezuela, do
Equador e do Chile. O México também tentou, mas foi dominado. A Venezuela e o Equador
foram reconquistados pelos espanhóis.
Na segunda fase (1816-1828), quando o rei Fernando VII já havia reassumido o trono
espanhol, ocorreram as independências da Bolívia, do México, do Peru e da América Central. O
Uruguai, que naquela época havia sido anexado ao Brasil, iniciou a luta pela libertação em 1825,
conseguindo-a, em 1828.
“Por que se insurgem as colônias da Espanha? Será por que os grandes latifundiários
(habitualmente produtores para a exportação), os proprietários de minas, os donos de milhões de
índios e os poderosos mercadores de além-mar forma seduzidos pelos filósofos franceses e alguns
liberais pensadores espanhóis? É claro que houve exceções (e Bolívar foi uma delas), mas a
imensa maioria moveu-se por motivos mais prosaicos. Havia chegado o momento de afastar um
sócio incômodo: o poder da Coroa espanhola...”5
O nascimento dos Estados Nacionais na América Latina ficou marcado por uma dupla
limitação: economicamente, pela inserção na nova divisão internacional do trabalho, na condição
de área periférica, o que garantia a manutenção do latifúndio e do trabalho escravo;
politicamente, pelas limitações democráticas, que excluíam a maior parte da população até
mesmo do elementar direito ao voto.
A independência que acabou se efetivando na América espanhola, na prática, promoveu o
rompimento das relações entre colônias e metrópole advindas do pacto colonial, mas manteve
estruturas sociais herdadas do antigo sistema colonial. Para isso, contribuíram diversos fatores,
especialmente o controle que as elites criollas e locais assumiram nas lutas pela independência.
A independência política, contudo, se por um lado permitiu o rompimento do pacto
colonial, favorecendo as transações comerciais entre as nações recém-emancipadas e os centros
de desenvolvimento capitalista, por outro, impôs a dependência econômica latino-americana às
grandes potências capitalistas do século XIX.
As nações latino-americanas permaneciam desempenhando o papel de fornecedoras de
matérias-primas e consumidoras de artigos industrializados. As elites locais, defendendo seus
próprios interesses, aliaram-se às potencias hegemônicas (primeiramente Inglaterra, e, depois,
Estados Unidos), colaborando para perpetuar a situação de dependência em que se achava a
América do Sul, desde o século XVI.
“para aqueles que não dispunham de recursos, quer econômicos, quer culturais, os novos
tempos não trouxeram benesses ou regalias. Reformas sociais de peso, terra, salários dignos,
participação política, educação popular, cidadania, respeito cultural às diferenças, tudo isso iria
ter de esperar. As ações de governos autoritários cobririam e deixariam suas marcas registradas
na América Latina durante a maior parte do século XIX. Os de baixo teriam de se organizar,
lutar, sofrer e morrer para alcançar seus objetivos. Não foram as lutas de independência que
mudaram sua vida”.6
Embora os pobres tivessem, em muitas oportunidades, lutado ao lado de seus senhores, a
independência não lhes trouxe alterações definitivas. Permaneceram à margem dos benefícios,
garantindo o poder econômico e político dos caudilhos, os chefes políticos dos novos países do
continente.
“A ausência de um poder político institucionalizado na fase posterior à independência abriu
espaço às múltiplas manifestações autonomistas do latifúndio e foi assim que surgiram os
caudilhos, lideres locais que funcionaram como porta-vozes das diferentes frações da classe
dominante em variados momentos, valendo-se do amplo espaço que lhes permitia a falta de
Estados juridicamente organizados. Com os caudilhos, fortaleceu-se uma tradição que se
perpetuaria mesmo depois de a América espanhola ter definido seus Estados e fronteiras: acima
de leis ou instituições, com seu discurso ideológico, há o capricho de um chefe, com seu arbítrio
e sua capacidade de arregimentar forças”.7
Os capitais estrangeiros entravam na América Latina sob a forma de empréstimos, que eram
aplicados em ferrovias, portos, eletrificação, melhorias urbanas, telégrafos, etc. O pagamento de
tais empréstimos representava um lucro extraordinário para os credores estrangeiros e provocava
o escoamento do dinheiro para fora dos países devedores.
Banqueiros e comerciantes europeus e norte-americanos instalaram filiais de suas empresas
nas principais cidades da América do Sul de onde controlavam os negócios. É verdade que essas
aplicações de capital trouxeram uma certa modernização para algumas cidades do continente,
mas pagava-se um preço muito alto por ela. Além disso, ela não significava benefícios para toda
a população, e como ocorrera na Europa, uma minoria de privilegiados usufruía dos novos
investimentos.
A independência política não significou autonomia econômica e, tampouco, a superação de
algumas características coloniais. A base da riqueza continuou sendo o extrativismo mineral e
vegetal, a agricultura monocultora e latifundiária, voltados para o mercado externo.
“Investimentos no estrangeiro, especialmente os na América Latina, cresceram rapidamente
na ultima metade do século XIX. Ainda que o total do capital britânico na América Latina, em
1850, fosse pequeno, ele aumentou em ritmo constante durante as décadas de 1850 e 1860”.8
O Paraguai manteve, até 1865, uma política fortemente nacionalista e de busca de sua
independência econômica.
OS governos paraguaios do pós-independência procuravam manter o país menos
dependente dos estrangeiros. Mesmo com poucos recursos, o país contava com algumas fábricas
que produziam de tecidos a navios, com matérias-primas e técnica desenvolvidas no próprio país.
Por ser um país afastado do mar, era muito importante para o Paraguai manter a livre
navegação no estuário do rio da Prata, pois era sua única saída para o Oceano Atlântico. A
passagem dos navios paraguaios pelo Prata dependia, pois, de suas relações com os países que
controlavam o estuário, sobretudo a Argentina e o Uruguai. Os brasileiros também utilizavam a
bacia do Prata para atingir as vastas regiões do centro-oeste do império, dadas as dificuldades de
acesso por via terrestre. Essa situação fazia com que fosse necessário, para todos esses países,
manter estáveis as relações entre eles e evitar o fechamento do Rio da Prata.
Mas as relações entre esses países nem sempre foram tranqüilas, e desde o período colonial,
a região era alvo de acirradas disputas. Após as independências, fortes hostilidades marcavam as
relações entre o Paraguai, de um lado, Argentina e Brasil, de outro. A Inglaterra aproveitou a
tensão local, estimulando a formação de uma aliança contra o Paraguai, formada pelo Brasil, a
Argentina e o Uruguai. Alegando problemas de invasão de território, a Tríplice Aliança
envolveu-se numa guerra contra a nação guarani, iniciada em 1865 e terminada em 1870.
Terminada a guerra, o Paraguai, derrotado, sucumbiu aos interesses externos e à
dependência econômica.
Embora a imensa maioria dos países houvesse se organizado sob a forma republicana (as
únicas exceções foram o México e o Brasil, que viveram experiências monárquicas), eles se
caracterizaram pela instabilidade política. Tal instabilidade pode ser explicada, pelo menos, em
parte, porque o poder, quase sempre, era tomado à força por grupos rivais. Um caudilho (dono de
terras e chefe de exércitos particulares), por meio de um golpe, desaloja o outro do poder, com o
auxilio de suas tropas particulares e de outros donos de terra que lhe davam apoio.
“A história do Paraguai esteve intimamente ligada à do Brasil e à da Argentina, principais
pólos do subsistema de relações internacionais na região do Rio da Prata. O isolamento
paraguaio, até a década de 1840, bem como sua abertura e inserção internacional se explicam, em
grande parte, pela situação política platina. Nos anos seguintes a essa abertura, o Paraguai teve
boas relações com o Império do Brasil e manteve-se afastado da Confederação Argentina, da qual
se aproximara nos anos de 1850, ao mesmo tempo que vivia momentos de tensão com o Rio de
Janeiro. Na primeira metade da década de 1860, o governo paraguaio, presidido por Francisco
Solano López, buscou ter participação ativa nos acontecimentos platinos, apoiando o governo
uruguaio hostilizado pela Argentina e pelo Império. Desse modo, o Paraguai entrou em rota de
colisão com seus dois maiores vizinhos e Solano López acabou por ordenar a invasão de Mato
Grosso e Corrientes e iniciou uma guerra que se estenderia por cinco anos”.9
INDEPÊNDENCIA DA COLÔNIA PORTUGUESA-BRASIL
Durante o período colonial, houve varias rebeliões envolvendo parcelas da população, em
conflito com representantes da metrópole. Foi o caso, da Revolta dos Beckman, da Guerra dos
Mascates, da Guerra de Vila Rica. De maneira geral, essas revoltas expressavam conflitos
localizados, ou seus líderes pretendiam modificar aspectos da política colonial. Não havia nessas
revoltas o objetivo de separação de Portugal.
No final do século XVIII, aconteceram outras revoltas, entre as quais, destacamos a
Conjuração Mineira(1789) e a Conjuração Baiana (1798), que, entre seus planos, tinham como
objetivo romper com a dominação colonial e estabelecer a independência política em relação a
Portugal. No entanto, o interesse dos revoltosos concentrava-se em tornar independentes as
regiões em que eles viviam.
“Podemos dizer que foram movimentos de revolta regional e não revoluções nacionais”.10
Esses movimentos foram duramente reprimidos, porém outros fatos auxiliaram para que o
Brasil se tornasse independente. Fatos tanto nacionais quanto internacionais. A seguir,
abordaremos e analisaremos os mesmos.
No início do século XIX, uma guerra abalou a Europa. Os exércitos de Napoleão
Bonaparte, imperador da França, dominavam diversos países europeus. Praticamente as únicas
forças capazes de resistir ao exercito francês foram as inglesas, que se protegiam com uma
poderosa marinha de guerra.
Sem conseguir dominar a Inglaterra pela força militar, Bonaparte tentou vencê-la pela força
econômica. Para isso, em 1806 decretou o Bloqueio Continental, pelo qual os países do
continente europeu deveriam fechar seus portos ao comercio inglês.
Nessa época, Portugal era governado pelo príncipe D. João, que não podia cumprir as
ordens de Napoleão e aderir ao Bloqueio Continental, pois os comerciantes de Portugal tinham
importantes relações com o mercado inglês.
D. João pretendia manter-se neutro no conflito entre franceses e ingleses. Os exércitos
franceses não aceitaram essa indefinição e invadiram Portugal, com o apoio de tropas espanholas.
Sem condições de resistir à invasão da tropas franco-espanholas, D. João e a corte
portuguesa fugiram para o Brasil, sob a proteção naval inglesa.
O governo inglês tratou de tirar o máximo proveito da proteção militar que deu ao governo
português. Interessado na expansão do mercado para suas indústrias, pressionou D. João a acabar
com o monopólio do comércio colonial.
Em 28 de janeiro de 1808, seis dias após o desembarque no Brasil, D. João decretou a
abertura dos portos ao comércio internacional, isto é, às “nações amigas”. Com essa medida, o
monopólio comercial ficava extinto, exceto para alguns poucos produtos, como sal e pau-brasil.
Os comerciantes da colônia ganhavam liberdade de comercio, e abria-se o caminho para a
emancipação do Brasil.
No Rio de Janeiro, D. João organizou a estrutura administrativa da monarquia portuguesa:
nomeou ministros de Estado, colocou em funcionamento diversos órgãos públicos, instalou
Tribunais de Justiça e criou o Banco do Brasil. Entre as medidas do governo de D. João, algumas
contribuíram para o processo de emancipação política brasileira.
Em 1815, o Brasil foi elevado à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves.
Com essa medida, na prática, o Brasil deixava de ser colônia de Portugal.Tornava-se Reino
Unido e, com isso, adquiria autonomia administrativa.
“Na condição de sede do Reino, a cidade do Rio de Janeiro viu multiplicarem-se as
edificações, os chafarizes, as ruas calçadas – e também a quantidade de novos e velhos ofícios.
Contratado como pintor da Corte, Debret foi aos poucos desviando os olhos do interior do palácio
e voltando-se noutra direção, onde a vida realmente fervilhava: as ruas da cidade.
O que tinham elas de especial? Amontoavam hábeis artífices, quituteiras, barbeiros
ambulantes, vendedores de toda sorte e tantos outros trabalhadores em frenética atividade, numa
mistura de negros alforriadas, brancos ocupados e escravos urbanos, muitas vezes semilibertos,
que compunham a nova paisagem do Rio de Janeiro”.11
Em agosto de 1820, os comerciantes da cidade portuguesa do Porto lideraram um
movimento que ficou conhecido como Revolução Liberal.
Essa revolução espalhou-se rapidamente por Portugal, encontrando apoio em diversos
setores da população: camponeses, funcionários públicos, militares, profissionais liberais.
Chegou, inclusive, a conquistar adeptos no Brasil.
“Além de não ter sabido prever nem dominar a revolução desencadeada em Lisboa,
deixaram igualmente os ministros de D. João VI que ela invadisse, e quase co rapidez do
relâmpago, todas as províncias do Brasil, onde alguns patriotas esclarecidos já vinham
organizando uma revolução cujos objetivos e princípios a maioria da população brasileira
ignorava”.12
Vitoriosos, os revoltosos conquistaram o poder em Portugal e decidiram elaborar uma
constituição de caráter liberal, limitando os poderes de D. João VI. Pretendiam também fazer com
que o Brasil voltasse a ser uma colônia de Portugal (recolonização).
Contrariado pelos acontecimentos, o rei queria ficar no Brasil, e adiou quanto pôde seu
regresso à metrópole. Tropas portuguesas no Rio de Janeiro, porém, obrigaram-no a decidir-se a
voltar a Portugal.
Assim, D. João VI retornou à sua pátria no dia 26 de abril de 1821, deixando seu filho
Pedro como príncipe regente do Brasil.
As Cortes portuguesas, apesar de liberais em relação a Portugal, mostraram-se bastante
reacionárias com relação ao Brasil, pois tentaram recolonizá-lo.
A tentativa de recolonização, no entanto, não foi bem aceita pelas elites coloniais, que
optaram por caminhar rumo à independência.
Havia divergências entre os representantes das elites sobre como deveria se dar a
independência. Alguns desejavam que se proclamasse a Republica, como todos haviam feito na
América.
Outros pensavam que a ruptura com Portugal deveria ser da maneira mais tranqüila
possível, para evita que surgissem propostas radicais, como a de abolir a escravidão ou mudar a
estrutura da posse da terra.
O grupo que apoiava esta última idéia é que tomou a frente do movimento, conduzindo
todas as ações para conseguir uma independência que tivesse um caráter conservador.
O que se pretendia, e que foi afinal realizado, era uma separação política em relação a
Portugal, mantendo-se as estruturas sociais e econômicas sem qualquer mudança.
Para isso, os representantes das elites entenderam que seria da mais alta importância contar
com o príncipe D. Pedro, mesmo sendo ele português.
Todas as ações foram encaminhadas para fazer D. Pedro permanecer no Brasil e, mais do
que isso convencê-lo a participar, ativamente, do processo de independência, com a promessa de
tornar-se imperador do Brasil.
O primeiro passo foi “obrigar” D. Pedro a ficar no Brasil, pois as Cortes estavam exigindo
sua volta. Pressionado, ele concordou em ficar (janeiro de 1822 – o Dia do Fico). Em seguida, o
ministro José Bonifácio procurou fortalecer a autoridade do príncipe, ao mesmo tempo em que
tentava convencê-lo da independência.
O passo seguinte foi retirar a tropas portuguesas que ficavam no Rio e que poderiam
atrapalhar os planos. José Bonifácio conseguiu que D. Pedro expulsasse o comandante português.
Chegaram novos navios portugueses, trazendo ordens de prisão para todos os que
desobedecessem às determinações das Cortes. E insistiam para que D. Pedro regressasse a
Portugal.
No dia primeiro de agosto, José Bonifácio redigiu um manifesto às varias províncias. Nesse
manifesto, assinado por D. Pedro, comunicava-se que a independência já era realidade e
conclamava-se a todos para lutarem por ela.
Cinco dias depois, um novo manifesto foi enviado, desta vez às nações amigas. Novamente
comunicava-se que o Brasil estava independente de Portugal e pedia-se o apoio dessas nações,
que poderiam ser beneficiadas com privilégios comerciais.
Finalmente, a sete de setembro, ocorreu o famoso “Grito do Ipiranga”. Ali, na realidade, D.
Pedro tornou público o seu rompimento com as Cortes, definindo que iria ficar no Brasil, como
imperador.
“o processo de emancipação política do Brasil configurou uma revolução, uma vez que
rompeu com a dominação colonial, alterando a estrutura do poder político – com a exclusão da
metrópole portuguesa. Revolução, entretanto, que levaria o Brasil do Antigo Sistema Colonial
português para um novo sistema mundial de dependências”.13
Porém, a independência só se consolida com o reconhecimento.
O primeiro país a reconhecer a independência do Brasil foi os Estados Unidos, em 1824.
Em 1825, venceram os tratados que a Inglaterra havia assinado com Portugal em 1810, por
meio dos quais os seus pagavam menos impostos no Brasil. Querendo renovar esses tratados, a
Inglaterra pressionou o governo português que, finalmente, reconheceu a independência do Brasil
apesar de ter feito algumas exigências para isso:
· D. João VI teria o titulo de Imperador do Brasil.
· O Brasil não poderia comercializar com as colônias portuguesas.
· O Brasil pagaria uma indenização a Portugal (dois milhões de libras esterlinas).
Assim, repetia-se no Brasil o que já ocorrera na América espanhola: a independência fora
realizada, mas sem transformações na estrutura econômica e social do país. A exclusão social
continuava a ser uma triste realidade.
“A descolonização é um processo lento, difícil e doloroso, comparável à convalescença de
uma longa e grave enfermidade”.14
NOTAS:
2 POMER, L. A Independência na América Latina. In: KOSHIBA, R. América, uma introdução histórica. São
Paulo: Atual, 1992. Pg. 81.
3FRIEDE, Juan. El arraigo histórico del espiritu de independência em El Nuevo Reino de Granada. In: Revista de
História de América, n. 33, jun. 1952, México.
4 LOPEZ, Luiz Roberto. História da América Latina. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986, pg. 70-71.
5 POMER, León. As independências na América Latina. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1981, pg. 9.
6 PRADO, Maria Lígia Coelho. “Sonhos e desilusões nas independências hispano-americanas”. In: América
latina no século XIX – tramas, telas e textos. São Paulo: Edusp, 1999. pg. 73.
7 LOPEZ, Luiz Roberto. História da América Latina. Porto Alegre: MeRCADO Aberto, 1986, pg. 82.
8 GRAHAN, R. Grã-bretanha e o início da modernização no Brasil – 1850-1914. São Paulo: Brasiliense, 1973. p 5.
9 DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das
Letras, 2002. Pg. 23.
10 FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1994. pg. 113.
11 GAMA, Rinaldo. Revista Veja, 2mar. 1994. Pg. 100-101.
12 Debret, Jean-Baptiste. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1978. Pg.314.
13 MOTA, Carlos Guilherme, NOVAIS, Fernando A. A independência política do Brasil. São Paulo: Moderna,
1986.
14 MEMMI, A. Retrato do Colonizado, precedido do retrato do Colonizador. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977., p.
3.

Um comentário:

Anônimo disse...

Mateus!
vc sauvou nosso trabalho!!
graças a vc poderemos tem uma nota ecelente!
Parabéns!!
pela dedicação em nos ajudar!!
não só a mim e ao meu grupo, mas a tantas pessoas q recorem a internet para melhor aprender!!
obrigada!